1ª Parte:
O 6º andar da Torre 3001 era um portal tridimensional. Entrada de um universo onde o silêncio ambiente não existia, Músicas psicodélicas faziam a trilha sonora 24h. Lar de Feiticeiros, Alquimistas, Duendes, políticos honestos e padeiros higiênicos, seres que em nossa dimensão eram tidos como lendas ou histórias para dormir.
O 6º andar da Torre 3001 era um portal tridimensional. Entrada de um universo onde o silêncio ambiente não existia, Músicas psicodélicas faziam a trilha sonora 24h. Lar de Feiticeiros, Alquimistas, Duendes, políticos honestos e padeiros higiênicos, seres que em nossa dimensão eram tidos como lendas ou histórias para dormir.
Dentro do andar havia uma linda praia com um céu alaranjado e uma bomboniere que também vendia cachaça.
No momento em que chegamos, o feiticeiro Choco tocava seu set
enquanto um duende careca corria com um copo de elixir em cima de sua cabeça,
era um dos testes do andar, quem conseguisse pegar o copo ganharia
alguns anos de vida bônus.
Com a garganta seca, resolvi tomar uma água, pois como dizia Paulo
“água é vida”.
Dirigi-me até um bar que ficava entre as raízes de uma arvore milenar,
Pocas Testa, amigo duende sufista de Itacaré que estava atendendo
no bar, ele olhou para minha cara e perguntou “e aí, o que vai querer?”. No
entanto, eu não conseguia reproduzir palavra alguma, parecia que minhas cordas
vocais estavam no mudo.
Voltei para a praia pensativo... Treinei então por 3 horas
(naquela dimensão do andar, pois no nosso universo foram 3 minutos, não era
mais como o som do pêndulo amargo da vida que estávamos acostumados a escutar).
O treino era: "Chegar no bar e dizer: uma água, por favor"
Fui em direção a Pocas, e disse o que havia treinado, então Pocas
acrescentou: “água com gás ou sem gás?”. Eu não conseguia responder, e só disse
“mano, eu quero uma água, velho”. Afinal, não tinha treinado mais do que um
simples pedido de água.
Somente depois de muito esforço, percebi que naquele universo as
pessoas não conversavam muito por palavras ditas, a comunicação era composta
por trocas de energias e pensamentos.
Encontrei-me uma vez
com uma Garota que trazia o cheiro da mistura de terra molhada com o perfume daquelas flores raras que a mesma distribuía gratuitamente e felizmente. Um foco de luz exalava dos seus lábios, convocava a manhã que chegava às
quatro e pouca. O encontro dos nossos olhares formavam ondas de
energia que influenciavam as ondas que batiam na areia da praia, grandes ondas, diga-se
de passagem. Resolvi me aproximar e oferecer um “Olá energético”, ela
retribuiu, concedendo-me um beijo, e após disso saiu com o seu perfume se
dissipando entre o vento. Ela sumiu, sumiu e eu nunca mais voltou, contudo, seu cheiro ficou eternamente naquela praia com o céu alaranjado.
2ª Parte:
Na bomboniere, vimos a pequenina Katarina, menina de 7 anos que vendia bala e doce, numa barraca que caía aos pedaços por conta da maresia da praia. Ela morava com Dona Karen, matriarca, mãe de lindas filhas, e que trabalhava 24 horas por amor. Sempre com um sorriso no rosto, e disposta a ganhar o sustento de suas filhas a todo custo. Ela mesma dizia não poder reclamar, pois até conseguia dormir nos intervalos entre um trabalho e outro, dentro do ônibus.
Katarina, menina que gostava de conversar mais do que aquelas sábias senhoras que proseavam sentadas na praça da esquina da fé, todo domingo, antes do Faustão, lógico.
Ela tinha o costume de ler demasiadamente, lia dois ou três livros da literatura nacional ao mesmo tempo.
Dona Karen sempre comentava com a pequena:
- Você só sabe comer livros, moça, nunca vi igual.
Até que certo dia, Katarina retrucou:
- Livro não se come, mama, só se for de chocolate.
A linda Katarina era a ÚNICA pessoa daquela dimensão que conseguia se comunicar através de palavras ditas, com fluência, dotadas de coerência e coesão.
E ela falava muito, mais até que o Malandro Jhiad, que, naquela dimensão, era um monge.
...A pequena Katarina passou o troco e puxou conversa:
"Eu amo minha Mama, bem, seu nome para os outros é Karen, ela é uma digna mulher de alto vigor, trabalha para um grande grupo empresarial, que distribui todo tipo de doce e bala que você possa imaginar. Sim, Mama faz o trabalho mais complicado da Terra, o de ser Bruxa, e com seus poderes, cuida de todas as fabricas e vendas da companhia, no mesmo passe de mágica que minhas roupas sujas estão limpas e cheirosas toda manhã."
Contudo, Dona Karen, Em sua (falsa)lucidez – o que quase ninguém sabia – vestia um rosto para cada momento, lugar e pessoa. Sua verdadeira face só era vista por sua filha Katarina e por todos da dimensão Fou.
Na Dimensão Fou, O rosto de Dona Karen podia ser visto de longe, exalava cheiro de desodorante de ontem com sovaco suado, tinha batom borrado e olheiras maiores que sua dignidade, seus olhos eram vermelhos como a brasa do cachimbo de Lion God. O seu rosto tinha uma espécie de pó branco que a fazia ficar acordada para todo o sempre, “minha Mama se preocupa muito com a Beleza, não consegue ficar um dia sequer sem aquela maquiagem”, dizia a pequena Katarina.
- João Paulo Hoffmann
SOUNDTRACK DO CONTO - 3001BR SONGS
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