quinta-feira, 13 de agosto de 2015

Dimensão Fou (6º Andar) - Livro Torre 3001

1ª Parte:

O 6º andar da Torre 3001 era um portal tridimensional. Entrada de um universo onde o silêncio ambiente não existia, Músicas psicodélicas faziam a trilha sonora 24h. Lar de Feiticeiros, Alquimistas, Duendes, políticos honestos e padeiros higiênicos, seres que em nossa dimensão eram tidos como lendas ou histórias para dormir.

Dentro do andar havia uma linda praia com um céu alaranjado e uma bomboniere que também vendia cachaça.

No momento em que chegamos, o feiticeiro Choco tocava seu set enquanto um duende careca corria com um copo de elixir em cima de sua cabeça, era um dos testes do andar, quem conseguisse pegar o copo ganharia alguns anos de vida bônus.

Com a garganta seca, resolvi tomar uma água, pois como dizia Paulo “água é vida”.

Dirigi-me até um bar que ficava entre as raízes de uma arvore milenar,  Pocas Testa,  amigo duende sufista de Itacaré que estava atendendo no bar, ele olhou para minha cara e perguntou “e aí, o que vai querer?”. No entanto, eu não conseguia reproduzir palavra alguma, parecia que minhas cordas vocais estavam no mudo.
Voltei para a praia pensativo... Treinei então por 3 horas (naquela dimensão do andar, pois no nosso universo foram 3 minutos, não era mais como o som do pêndulo amargo da vida que estávamos acostumados a escutar).
O treino era: "Chegar no bar e dizer: uma água, por favor"
Fui em direção a Pocas, e disse o que havia treinado, então Pocas acrescentou: “água com gás ou sem gás?”. Eu não conseguia responder, e só disse “mano, eu quero uma água, velho”. Afinal, não tinha treinado mais do que um simples pedido de água.

Somente depois de muito esforço, percebi que naquele universo as pessoas não conversavam muito por palavras ditas, a comunicação era composta por trocas de energias e pensamentos.

Encontrei-me uma vez com uma Garota que trazia o cheiro da mistura de terra molhada com o perfume daquelas flores raras que a mesma distribuía gratuitamente e felizmente. Um foco de luz exalava dos seus lábios, convocava a manhã que chegava às quatro e pouca. O encontro dos nossos olhares formavam ondas de energia que influenciavam as ondas que batiam na areia da praia, grandes ondas, diga-se de passagem. Resolvi me aproximar e oferecer um “Olá energético”, ela retribuiu, concedendo-me um beijo, e após disso saiu com o seu perfume se dissipando entre o vento. Ela sumiu, sumiu e eu nunca mais voltou, contudo, seu cheiro ficou eternamente naquela praia com o céu alaranjado.


2ª Parte:

Na bomboniere, vimos a pequenina Katarina, menina de 7 anos que vendia bala e doce, numa barraca­ que caía aos pedaços por conta da mares­ia da praia. Ela morava com Dona Karen, matriarca, mãe de lindas filhas, e que trabalhava 2­4 horas por amor. Sempre com um sorriso no rosto, e disposta a ganhar o sustento de suas filhas a todo custo. Ela mesma dizia não poder reclamar, pois até conseguia dormir nos intervalos entre um trabalho e outro, dentro do ônibus.

Katarina, menina que gostava de conversa­r mais do que aquelas sábias senhoras que proseavam sentadas na praça da esquina da fé,­ todo domingo, antes do Faustão, lógico.­
Ela tinha o costume de ler demasiadamente, lia dois ou três livros da literatura nacional ao mesmo tempo.

Dona Karen sempre comentava com a pequena:
- Você só sabe comer livros, moça, nunca vi igual.

Até que certo dia, Katarina retrucou: 
- Livro não se come, mama, só se for de chocolate.

A linda Katarina era a ÚNICA pessoa daquela dim­ensão que conseguia se comunicar através de palavras ditas, com fluência, dotadas de coerência e coesão.
E ela falava muito, mais até que o Malandro Jhiad, que, naquela dimensão, era um­ monge.­

...A pequena Katarina passou o troco e puxou conversa:
"Eu amo minha Mama, bem, seu nome para ­os outros é Karen, ela é uma digna mulher de alto vigor, trabalha para um grand­e grupo empresarial, que distribui todo ­tipo de doce e bala que você possa imaginar. Sim, Mama faz o trabalho mais complicado da Terra, o de ser Bruxa, e com seus poderes, cuida de todas as fabricas ­e vendas da companhia, no mesmo passe de mágica que minhas roupas sujas estão limpas e cheirosas toda manhã."

Contudo, Dona Karen, Em sua (falsa)lucidez – o que qu­ase ninguém sabia – vestia um rosto para­ cada momento, lugar e pessoa. Sua verdadeira face só era vista por ­sua filha Katarina e por todos da dimensão Fou.

Na Dimensão Fou, O rosto de Dona Karen podia­ ser visto de longe, exalava cheiro de desodorante de ontem com sovaco suado, tinha ­batom borrado e olheiras maiores que sua dignidade, seus olhos eram vermelhos como a brasa do cachimbo de ­Lion God. O seu rosto tinha uma espécie ­de pó branco que a fazia ficar acordada ­para todo o sempre, “minha Mama se preocupa muito com a Be­leza, não consegue ficar um dia sequer s­em aquela maquiagem”, dizia a pequena Katarina.­


- João Paulo Hoffmann


SOUNDTRACK DO CONTO - 3001BR SONGS

quarta-feira, 12 de agosto de 2015

JHIHAD - Livro TORRE 3001

Jhihad chegou com o cabelo pintado de loiro numa 50tinha, que­ ninguém sabia de quem era.

Jhihad, um grande Laranja.

Neste dia, Jhihad convidou todos para uma festa no club mais antigo da cidade de Cacau City, que obviamente, ninguém - nem mesmo o Jhihad - havia sido convidado.
Piolho de festa, penetrava não pela festa em si, mas pela emoção de entrar sem autorização, usando um migué. Teve uma época em que Jhihad conhecia todos os seguranças e garçons - inclusive o garçom PORTELA, o mito, diga-se de passagem -, o que facilitava a sua entrada. Comer e beber de graça eram seus esportes.
Jhihad, acadêmico na Universidade Estadual de Cacau City, tinha honrosos valores sociais e era um assíduo defensor da Esquerda e de todos os oprimidos. Ele apoiava os fundamentalistas do islã só por eles serem Minoria, ele mesmo dizia: “Pivete, se tiver guerra, eu viro homem bomba nessa porra”.
Todavia, na verdade, Jhihad era malandro, o típico malandro carioca, só que baiano. A sua característica marcante era realmente marcante, ele FALAVA DEMAIS, sabe aquele momento em que o assunto acaba e o silencio é a harmonia? Então, Jhihad sempre tinha algo a dizer. Era o primeiro a se comunicar e o último a se calar, filho da Puta!
Jhihad era companheiro e nunca colocou ninguém em corre errado. Tinha um bom coração, o qual fora comandado e lesado por crentes mulheres de passados, amores jurados, coisa de doido mesmo.


- João Paulo Hoffmann