sábado, 12 de setembro de 2015

Kakaô - Livro 3001

Kakaô, aos três anos de idade saiu de sua terra Natal, a capital do Rio Grande do Norte, e foi para Albânia, um pequeno país montanhoso situado na borda ocidental da península Balcânica, no sudeste da Europa. E lá ficou por 15 anos de sua vida, totalizando infância e adolescência num país culturalmente antagônico em relação ao Brasil.

        Aos quatro anos de idade, ateou fogo em duas escolas diferentes, pois preferia brincar com fogo do que com bonecos de ação (OXE, ele queria ação de verdade).
Aos 7 anos foi morar num internato, onde ficou até seu último dia na Albânia. Kakaô sempre esteve “à frente” do seu tempo e da sua idade.

        Na Albânia, não existem muitos limites legais para o consumo ou compra de álcool por menores, e, por conta disso (ou não), os pequenos gafanhotos Balcânicos já tinham a cabeça voltada para o mundo profano. Era comum menores com 13/14/15 anos comprarem carteiras de identidade falsas para entrar em festas. É exatamente neste contexto onde Kakaô é reconhecido por um de seus talentos, aos 13 anos já monopolizava todo o ramo de IDs falsas. Aos poucos ele ficou conhecido no meio jovem, era o negro mais popular, sim, negro, pois segundo relatos do próprio Kakaô: “na Europa eu era mais Negro que no Brasil”.

        Por conta dessa popularidade, aos 15 anos começou a trabalhar para Jones, sujeito que tinha uma mão de ouro, pois a original de carne humana fora perdida em um racha com sua Ferrari, mas graças a Deus, a Ferrari não se feriu. Jones organizava diversas baladas na Albânia e também em outros países, como Macedônia e Grécia. Ele tinha muitos “promotores de eventos”, os quais revendiam ingressos em escolas, faculdades e pontos fixos de venda. Era um trampo legal e rendia uma boa grana para Kakaô,  impossível de ganhar tendo 15 anos no Brasil.

        Num período de três anos, aprendeu sobre música de uma forma autodidata, começou a produzir música eletrônica, tocando um groove marcante, graves pesados e identidade que fazia sua marca. Aos 18 anos, era residente do J-Club, tocava em todos os eventos produzidos por Jones. Rapidamente, suas produções conseguiram espaço nas rádios europeias, e o podcast de Kakaô entrou no ranking dos podcasts mais baixados da Europa.

        Tudo começou a dar errado quando um Turco chamado Raj encontrou com Kakaô no fim da sua aula de quinta-feira nublada. Dizia ser amigo de Jones e que a partir daquele dia de outono, deveria entregar o dinheiro dos ingressos para Raj, e o mesmo passaria para Jones.

        Kakaô foi enganado e extorquido, Raj não era amigo de Jones e muito menos o representava. Decidiu então voltar a prestar suas contas diretamente para Jones, e a caminho de seu escritório, foi surpreendido por Raj com mais três turcos dentro de um sedan preto. Kakaô entrou forçado no carro, recebeu uma surra dos capangas e por fim uma mensagem de amor: “VOCÊ TERÁ ESSA DIVIDA ETERNA COMIGO, NUNCA DEIXE DE ME PAGAR, SEU CONTRATO SÓ VAI SER ENCERRADO COM SUA CABEÇA EM UMA ESTACA”. Kakaô nunca gostou de estacas e muito menos da ideia de ser morto ou extorquido por um Turco mafioso.


A única opção que lhe restava era voltar para 
o Brasil...


        Voltando para o Brasil, aos 18 anos de estórias, deparou-se com realidades que não condiziam com aquela que ele estava acostumado, sentia falta da tal “Frugalidade”, que é a arte de aproveitar as coisas simples de maneira simples, por mais que seja sofisticado.
Foi morar em Cacau City, com a família de seu Tio, a clássica classe média com traços europeus e uma cultura pseudo Norte-americanizada da “família perfeita”.
Ele sentia que as pessoas o julgavam muito pelo modo de vestir ou pela barba grande. Em um pais de jeitinhos e gingados onde o seu próprio modo de ser não é aceitável? Não conseguia entender essa lógica.
Houve um momento de surto, onde a paciência havia transbordado. Saiu de casa e foi morar em um prédio de 7 andares e sem elevador. Lugar conhecido como TORRE 3001. Em seu apartamento, que ficava no 7° andar, produzia música e vivia arte, lá era seu terreiro.

[A Torre 3001 era habitat de seres divergentes, universitários loucos, literatos e personalidades imortais. Cada andar continha suas histórias e estórias, moralidades e realidades próprias em contextos infinitos para ler e ser.

O térreo, mofado e empoeirado com paredes de tintas gastas, onde Kakaô postava sua bicicleta encadeada num portão enferrujado que ficava logo à esquerda da entrada. Existia um estacionamento no andar subterrâneo, que dividia espaço com o restaurante japonês Chan, de donos coreanos que vendiam pastel chinês e chás.

Bob, o porteiro da Torre, sempre lia algum livro da literatura nacional em sua guarita. Certa vez, Bob lendo Quarup e ouvindo um tal Di Melo, comentou brevemente sobre o caso dos meninos de seu bairro, que nunca tiveram mais de uma refeição nos seus dias de vida. Os moleques foram atacados acidentalmente por cães que saíram imunes e sem qualquer arranhão. Os cães eram de Seu Jacinto, ficavam soltos durante a noite e madrugada fazendo a segurança do seu frigorífico. Justificou o ocorrido, alegando ter sido furtado mais de três vezes pelos meninos.

        O soldado Arthur e o Tenente Santos, que estavam de serviço pelas redondezas, conseguiram impedir coisa pior de acontecer com os pobres garotos.
Contudo e Como tudo é uma questão de ajuda mútua, tudo se resolveu da melhor forma, e o Tenente Santos voltou pra casa com uma picanha pra ser assada no samba do domingão.

        SD Arthur, era o mais honesto de sua corporação, rapaz nascido e criado numa quebrada mais quebrada que seus bolsos quando menino. Sua mãe, evangélica e assídua em sua comunidade cristã, o levava e o buscava todos os dias, entre as idas e vindas dos bicos e trampos.
Ao fim da sua aula, às 4 e pouca da tarde, se reunia com seus colegas para bater aquele velho baba.
Rapaz muito estudioso, aos 23 anos passou no concurso pra Soldado, e finalmente conseguiu custear o curso superior dos seus sonhos. Justo e Perfeito, logo veio a ingressar numa sociedade, e, junto com sua esposa, ajudava toda a paróquia.

“Como todo brasileiro tem que comer seu pão e aprender a gingar, o que resta aos bons moços é o vício da omissão” disse Bob, o porteiro.]


        O apartamento do Albanês nordestino era repleto de quadros psicodélicos e de banners de festivais undergrounds de música eletrônica da Europa. Com uma vista de qualidade que dava pra enxergar a cidade toda, inclusive a casa verde da esquina da fé, que ia até o rio que dividia a Cidade. Ideias trocadas, festas desnorteadas e muita música boa foi criada neste cenário.

- João Paulo Hoffmann


quinta-feira, 13 de agosto de 2015

Dimensão Fou (6º Andar) - Livro Torre 3001

1ª Parte:

O 6º andar da Torre 3001 era um portal tridimensional. Entrada de um universo onde o silêncio ambiente não existia, Músicas psicodélicas faziam a trilha sonora 24h. Lar de Feiticeiros, Alquimistas, Duendes, políticos honestos e padeiros higiênicos, seres que em nossa dimensão eram tidos como lendas ou histórias para dormir.

Dentro do andar havia uma linda praia com um céu alaranjado e uma bomboniere que também vendia cachaça.

No momento em que chegamos, o feiticeiro Choco tocava seu set enquanto um duende careca corria com um copo de elixir em cima de sua cabeça, era um dos testes do andar, quem conseguisse pegar o copo ganharia alguns anos de vida bônus.

Com a garganta seca, resolvi tomar uma água, pois como dizia Paulo “água é vida”.

Dirigi-me até um bar que ficava entre as raízes de uma arvore milenar,  Pocas Testa,  amigo duende sufista de Itacaré que estava atendendo no bar, ele olhou para minha cara e perguntou “e aí, o que vai querer?”. No entanto, eu não conseguia reproduzir palavra alguma, parecia que minhas cordas vocais estavam no mudo.
Voltei para a praia pensativo... Treinei então por 3 horas (naquela dimensão do andar, pois no nosso universo foram 3 minutos, não era mais como o som do pêndulo amargo da vida que estávamos acostumados a escutar).
O treino era: "Chegar no bar e dizer: uma água, por favor"
Fui em direção a Pocas, e disse o que havia treinado, então Pocas acrescentou: “água com gás ou sem gás?”. Eu não conseguia responder, e só disse “mano, eu quero uma água, velho”. Afinal, não tinha treinado mais do que um simples pedido de água.

Somente depois de muito esforço, percebi que naquele universo as pessoas não conversavam muito por palavras ditas, a comunicação era composta por trocas de energias e pensamentos.

Encontrei-me uma vez com uma Garota que trazia o cheiro da mistura de terra molhada com o perfume daquelas flores raras que a mesma distribuía gratuitamente e felizmente. Um foco de luz exalava dos seus lábios, convocava a manhã que chegava às quatro e pouca. O encontro dos nossos olhares formavam ondas de energia que influenciavam as ondas que batiam na areia da praia, grandes ondas, diga-se de passagem. Resolvi me aproximar e oferecer um “Olá energético”, ela retribuiu, concedendo-me um beijo, e após disso saiu com o seu perfume se dissipando entre o vento. Ela sumiu, sumiu e eu nunca mais voltou, contudo, seu cheiro ficou eternamente naquela praia com o céu alaranjado.


2ª Parte:

Na bomboniere, vimos a pequenina Katarina, menina de 7 anos que vendia bala e doce, numa barraca­ que caía aos pedaços por conta da mares­ia da praia. Ela morava com Dona Karen, matriarca, mãe de lindas filhas, e que trabalhava 2­4 horas por amor. Sempre com um sorriso no rosto, e disposta a ganhar o sustento de suas filhas a todo custo. Ela mesma dizia não poder reclamar, pois até conseguia dormir nos intervalos entre um trabalho e outro, dentro do ônibus.

Katarina, menina que gostava de conversa­r mais do que aquelas sábias senhoras que proseavam sentadas na praça da esquina da fé,­ todo domingo, antes do Faustão, lógico.­
Ela tinha o costume de ler demasiadamente, lia dois ou três livros da literatura nacional ao mesmo tempo.

Dona Karen sempre comentava com a pequena:
- Você só sabe comer livros, moça, nunca vi igual.

Até que certo dia, Katarina retrucou: 
- Livro não se come, mama, só se for de chocolate.

A linda Katarina era a ÚNICA pessoa daquela dim­ensão que conseguia se comunicar através de palavras ditas, com fluência, dotadas de coerência e coesão.
E ela falava muito, mais até que o Malandro Jhiad, que, naquela dimensão, era um­ monge.­

...A pequena Katarina passou o troco e puxou conversa:
"Eu amo minha Mama, bem, seu nome para ­os outros é Karen, ela é uma digna mulher de alto vigor, trabalha para um grand­e grupo empresarial, que distribui todo ­tipo de doce e bala que você possa imaginar. Sim, Mama faz o trabalho mais complicado da Terra, o de ser Bruxa, e com seus poderes, cuida de todas as fabricas ­e vendas da companhia, no mesmo passe de mágica que minhas roupas sujas estão limpas e cheirosas toda manhã."

Contudo, Dona Karen, Em sua (falsa)lucidez – o que qu­ase ninguém sabia – vestia um rosto para­ cada momento, lugar e pessoa. Sua verdadeira face só era vista por ­sua filha Katarina e por todos da dimensão Fou.

Na Dimensão Fou, O rosto de Dona Karen podia­ ser visto de longe, exalava cheiro de desodorante de ontem com sovaco suado, tinha ­batom borrado e olheiras maiores que sua dignidade, seus olhos eram vermelhos como a brasa do cachimbo de ­Lion God. O seu rosto tinha uma espécie ­de pó branco que a fazia ficar acordada ­para todo o sempre, “minha Mama se preocupa muito com a Be­leza, não consegue ficar um dia sequer s­em aquela maquiagem”, dizia a pequena Katarina.­


- João Paulo Hoffmann


SOUNDTRACK DO CONTO - 3001BR SONGS

quarta-feira, 12 de agosto de 2015

JHIHAD - Livro TORRE 3001

Jhihad chegou com o cabelo pintado de loiro numa 50tinha, que­ ninguém sabia de quem era.

Jhihad, um grande Laranja.

Neste dia, Jhihad convidou todos para uma festa no club mais antigo da cidade de Cacau City, que obviamente, ninguém - nem mesmo o Jhihad - havia sido convidado.
Piolho de festa, penetrava não pela festa em si, mas pela emoção de entrar sem autorização, usando um migué. Teve uma época em que Jhihad conhecia todos os seguranças e garçons - inclusive o garçom PORTELA, o mito, diga-se de passagem -, o que facilitava a sua entrada. Comer e beber de graça eram seus esportes.
Jhihad, acadêmico na Universidade Estadual de Cacau City, tinha honrosos valores sociais e era um assíduo defensor da Esquerda e de todos os oprimidos. Ele apoiava os fundamentalistas do islã só por eles serem Minoria, ele mesmo dizia: “Pivete, se tiver guerra, eu viro homem bomba nessa porra”.
Todavia, na verdade, Jhihad era malandro, o típico malandro carioca, só que baiano. A sua característica marcante era realmente marcante, ele FALAVA DEMAIS, sabe aquele momento em que o assunto acaba e o silencio é a harmonia? Então, Jhihad sempre tinha algo a dizer. Era o primeiro a se comunicar e o último a se calar, filho da Puta!
Jhihad era companheiro e nunca colocou ninguém em corre errado. Tinha um bom coração, o qual fora comandado e lesado por crentes mulheres de passados, amores jurados, coisa de doido mesmo.


- João Paulo Hoffmann

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

Meu pé batendo no chão está em Sol maior

Porra!
Que merda!
Ta chegando sá disgraça
Inspiração que até dá dor de cabeça.
O que fazer agora que no escritório estou e violão aqui não tem?
Preciso procurar sons nas coisas,
Afinal,
Tudo produz um som, uma nota.
Pera, calma, canetas e minha escrivaninha não produzem um som agradável.
Preciso de sentimento e um bom groove nisso aqui.
O ar condicionado esta em sí.
Meu pé batendo no chão está em Sol maior.
Dezoito horas e partiu!
Bora! VAMU VER VU!?
Pegue aquele violão lá
Ali ó
A nona viola ao lado do retrato do Jimi Hendrix, aquele cara que tocava fogo na guitarra.
É, a vida pode até ser curta
Mas a felicidade é eterna
Então a gente vive e escreve, ler e vive.
Eterno.

- João Paulo Hoffmann

Jimi Hendrix Experience