quarta-feira, 20 de março de 2013

Seu Eça Pistola - Livro TORRE 3001

Eça Pistola entra na casa grande de seu Patrão, o Coronel (chamado por um nome de muitos outros coronéis) Jesuíno e de uma sinhá muito da boa gente, conhecida como Sinhá Benta. Ela era bem diferente de seu esposo, que era um péssimo patrão e um homem que se aproveitava da fome de quem tem fome. Eça bem sabia disso.
Eça Pistola havia sido contratado para executar inimigos políticos e pessoais de seu patrão. Reza-se um boato de que este Coronel (Cabra de muito respeito pela alta sociedade da época, diga-se de passagem) mantinha sua sinhá presa desde os quatro anos de idade. 
Ela sofreu tudo que depõe contra uma infância e a liberdade. Pobre coitada... Mas era rica na sua pouca honra que ainda era dela.
Logo ao entrar na casa grande, Eça Pistola se depara com a Sinhá Benta de olho roxo por conta do seu marido:
- Queres almoçar, seu Eça? - perguntou a sinhá.
- quero não dona, agora, se tiver um "restinho de comida"... quero sim.
- Oxe, e como tem! Você come feijão, arroz e bife...?

Aquele que não seria um "almoço", mas, "um resto de comida", acabou sendo a melhor refeição, em meses, do seu Eça Pistola.          
Ele reconhecia a boa alma de Sinhá Benta... E graças a ela, um sentimento de justiça misturado com vingança (ódio contra o Coronel, e amor pela Sinhá), explodia dentro do peito de seu Eça.

Essa a cor da
Essa do trabalho
Essa morte
Essa soa
Essa cachaça
Essa fome
Essa tristeza 
Essa dignidade?

Eça reconhece 

Eça mata.


- João Paulo Hoffmann



(Os Trapalhões - O Cangaceiro Trapalhão - 1983)